Pesquisando sobre esta verdadeira obra-prima, o LP “Maraponga”, do
Ricardo Bezerra, encontrei o texto a seguir, bem sintético, que diz mais do que eu
poderia dizer, e resolvi transcrevê-lo quase ipsi literis. Os adjetivos são
inevitáveis, transcritos do blog “Em-Cruz-Ilhada”, dos irmãos Rogério Saraiva e
Serge Rehem.
O
disco em questão é “Maraponga” do cearense Ricardo Bezerra, cantor, compositor
e músico, parceiro de Fagner desde o seu inicio de carreira, e que gravou este
excelente disco em 1978. Com uma banda invejável, participações de Fagner e
Amelinha nos vocais, esse disco ainda contou com os arranjos do mago Hermeto
Pascoal. Nos instrumentos nomes como Mauro Senise (flauta), Nivaldo Ornelas
(Sax e flauta), Robertinho de Recife (Guitarras), Sivuca (Acordeão) se destacam.
Ouvir um disco sem ter isso em mente é bem bacana, pois depois que se descobre
quem esta por trás, ai se pensa: Só podia ser, com esses monstros todos não
daria outra.
O disco possui uma qualidade irresistível, a
música de abertura e que também o batiza – Maraponga – serve de fio condutor
por todo o LP, que ora possui músicas cantadas e ora belas peças instrumentais.
Nesta canção merece destaque o uso do canto como um instrumento, algo que se
repete ao longo do disco. Sem proferir palavra, Amelinha seduz junto com o
excelente acompanhamento de piano, violinos e o cello do Jacques Morelembaum. “Maraponga”
abre caminho para a música seguinte, a composição “Cobra” (Alano Freitas e
Estelio Vale). “Lateja em tuas veias um sangue de cobra e tuas pernas bambas
dão coice tal cabra e de ruim que eu possa você só me cobra, mas vou tirar-te
veneno de cobra”, canta a bem postada e competente voz do Ricardo acompanhada da
guitarra de pegada rock'n roll do mestre Robertinho de Recife nos contrapontos e solo.
A terceira música é a belíssima “La Condessa”, de lavra do próprio Ricardo e
cantada pela voz doce de Amelinha, com firme poesia. As três faixas seguintes
demonstram, talvez, a grande virtude e diferença deste álbum. São três peças
instrumentais de uma qualidade hoje pouco vista na nossa música. Uma verdadeira
aula. A quarta canção é “Celebração” (Ricardo Bezerra) onde as flautas de Cacau, Zé
Carlos e Mauro Senise praticam uma verdadeira conversação com o Cello do
Morelembaum, criando harmonias maravilhosas ao mesmo tempo em que
seguem uma estranha melodia, quase como uma cantiga de ninar. A música segue
crescendo até o seu final; uma joia. Em “Sete Cidades” (Ricardo Bezerra), a
guitarra de Robertinho desfila, elegante e incisiva entre o belo trabalho dos
pianos do autor do disco e as vozes do coro que cantam a melodia da música. “Gitana”
prossegue na linha instrumental, uma composição que abre espaço para a
brilhante participação do pouco conhecido Nivaldo Ornelas, saxofonista de mão
cheia. É a vez de Fagner entoar a melodia rasgando sua voz característica. As
duas canções seguintes remetem-nos ao sentimento presente durante todo o disco: A amizade. “Cavalo de Ferro” e “Manera Fru-fru” são duas composições do Ricardo
que foram gravadas pelo Fagner no seu inicio de carreira, e os dois as cantam
muito bem juntos. E o disco encerra com uma música louca, “Improviso”, onde os
dois cantores realmente improvisam suas vozes com aquela pegada típica dos
repentistas.
Talvez tenhamos este presente em nossas mãos graças à influência que Raimundo Fagner tinha como produtor da gravadora CBS, época em que ele deu chance a muitos nomes de peso da música cearense e brasileira, talvez retribuindo o favor a Elis Regina e Nara Leão. Mas o importante é celebramos a qualidade do LP e agradecermos pela chance de ter acesso à boa música.
Ficha Técnica:
1978 Epic (144232)
01 - Maraponga (Ricardo Bezerra)
02 - Cobra (Alano Freitas - estelio Valle)
03 - La Condessa (Soares Brandão - Ricardo Bezerra)
04 - Celebração (Ricardo Bezerra)
05 - Sete cidades (Ricardo Bezerra)
06 - Gitana (Ricardo Bezerra)
07 - Cavalo ferro (Ricardo Bezerra - Fagner)
08 - Manera Fru-fru manera (Ricardo Bezerra - Fagner)
09 - Improviso (Ricardo Bezerra)
Arranjos Hermeto Pascoal
Direção Musical Ricardo Bezerra, Raimundo Fagner & Hermeto Pascoal.
Hermeto Pascoal - piano (1,2,3,4,7), arpchords (1,2,4), órgão (4), garrafa (7)
Ricardo Bezerra- vocal (1,2,3,6,7,8,9), piano (5,6)
Nivaldo Ornellas - flauta (1,3,4,8), sax soprano (6)
Mauro Senise - flauta (1,3,4,8), flautim (6)
Cacau (Claudio Araujo) - flauta (1,3,4,8)
Zé Carlos - flauta (1,3,4,8)
Jacques Morelembaum - violoncelo (1,4,8)
Itiberê Zwarg - baixo (1,2,3,4,5,6,7,8)
Sergio Boré - percussão (1,5,8), bateria (7)
Sivuca - acordeon (2,5,8), vocal (5)
Robertinho do Recife - guitarra (2,5), viola (8,9)
Luiz Paulo Peninha - bateria (2,3,5,6)
Marcio Malard - violino (3)
Bernardo Bessler - violino (3)
Aleuda - percussão (8)
Amelinha - vocal (1,3,6)
Fagner - vocal (2,6,7,8), violão (6)